Os primeiros
cristãos, sobretudo Lucas no Evangelho conservaram uma imagem de Jesus muito
orante, e que continuamente se retirava a um lugar à parte – geralmente um
monte – para estar com o Pai. Esta atitude de Jesus revela- nos, que o homem
tem em si essa necessidade de se relacionar. Para Jesus a solidão era o lugar
desse encontro, ambiente propício para cativar o amor. E nós como temos
encarado a nossa solidão interior?
Vivemos num
mundo agitado onde tudo passa e muda num instante, geralmente o que se escuta é
que “não tenho tempo para nada”, e assim vai... Nos acostumamos com o barulho,
com muitas pessoas à nossa volta, enfim, a solidão se torna na vida de muitos
algo insuportável. Isso se reflete claramente numa simples atitude de ao chegar
em casa após o trabalho ou da aula, ligar logo a TV ou o som para ouvir uma
música ou algo semelhante. Tudo na tentativa de se livrar da sensação de estar
só. É como se estar só, gerasse no interior o sentimento de não ser tão
importante ou amado. Muitos são os que por medo de se sentirem só, acabam
envolvendo em relacionamentos que na grande maioria só geram feridas em ambas
as partes. Mas, o que de fato precisamos é acolher que todos nós, somos um ser
intrinsecamente só.
A solidão faz
parte de nossa vida! Quem nunca se sentiu só em algum momento de sua história?
Estar só não significa ser só, pois o silêncio da solidão nos permite um
encontro profundo com nossa própria intimidade. Ela nos revela a verdade de
tudo o que trazemos em nosso interior. Ela é um espaço onde podemos nos
encontrar. Talvez seje essa a causa de tanta rejeição à solidão, já que nem sempre
estamos reconciliados conosco. Porém, quanto mais tentarmos fugir dessa experiência,
tanto mais nos encontraremos angustiados, descontentes, perturbados e até sem
ânimo para rezar, pois é ela que faz a nossa humanidade adentrar numa
verdadeira vida espiritual. A solidão tem como grande objetivo libertar o nosso
coração para o puro amor, pois à medida que nos aproximamos de Deus por meio
dela, tornamo-nos capazes de amar intensamente a todos sem possuir ou invadir
sua individualidade.
Independente
da vocação que se abraça, a solidão continuará sempre se fazendo parte
integrante da vida de cada pessoa. Na vida dos que se casam, ela se faz
necessária para que um não sufoque o outro com demasiadas expectativas. Na dos
que abraçam o celibato consagrado, é importante para que nela cultivando o amor
e a intimidade com Deus o mesmo não se arraste atrás de ilusões ou
autoconsolos.
A exemplo de
Jesus, aprendamos a abraçá – la como lugar de descanso, intimidade, e de
encontro com Aquele que nos conhece profundamente e que nos ama
incondicionalmente.